Pedro Fonseca, “Blogues proibidos”

Pedro Fonseca - Blogues proibidosLivros assim dão-me um sentimento misto: por um lado, é bom ter a agradável surpresa de abrir um livro, sem grandes expectativas e ser surpreendido por um trabalho de investigação cuidada e uma escolha criteriosa dos casos em estudo; por outro, surpreende-me como é que um livro que será um contributo valioso para a futura historiografia do blogging passa tão despercebido.

Sinto-me até envergonhado por o ter comprado naquela Feira-do-Livro-que-não-o-era que ocorreu (graças quer à alma das livrarias que se juntaram este ano na Praça da Liberdade, pelo simples desejo, antes de mais, de não quebrar uma tradição e graças ao empreendedorismo das meninas do Bairro dos Livros) pela quantia de €1. Garanto-vos que o livro vale muito mais. E esta recensão crítica procura justamente mostrar isso.

Para começar, Pedro Fonseca é, ele próprio, blogger (entre outras coisas). Ou seja, fala com conhecimento de causa. Aliás, o seu blogue ContraFactos & Argumentos aparece mencionado no texto. Por isso, é fácil visitá-lo e daí chegar ao autor, já que ele tem representação em várias redes sociais. É igualmente de formação jornalística, o que esclarece que o tema da relação entre os blogues e os media tradicionais apareça recorrentemente ao longo das suas histórias.

Estas histórias, no entanto, não são ficções: são os relatos do que foi acontecendo em vários casos que, partindo de blogues, atingiram os media, amplificando-se ao domínio nacional da discussão pública, com citações textuais de entrevistas, blogposts, declarações, editoriais, etc por ordem cronológica. Servindo-se destes cinco casos, no tempo da insipiência da blogosfera, Pedro Fonseca explora questões profundas e, em alguns casos, ainda por resolver, em vários domínios.

Entre elas, fica lançada a questão do futuro que se reserva aos media tradicionais com o acesso democratizado à expressão da opinião via novas tecnologias (seja ela ainda por blogue, que é o que é focado especificamente no livro, mas que hoje se estende para todos os novos canais editoriais que têm vindo a  proliferar, como o Issuu, para revistas online, o serviço de edição digital gratuito da Amazon para escritores, sites que promovem o pod ou videocasting, as radios virtuais, etc), muitas vezes a custo (monetário) zero para os utilizadores, obrigando a formas alternativas de financiamento dos projectos.

A perigosa apropriação do blogging como fonte de informação para os media tradicionais, com os efeitos perniciosos como o de dar voz a opinião como facto consumado, reflectindo o mau jornalismo que cita na primeira voz (confundindo-se narrador e personagem), que não se deu ao trabalho (ou não teve tempo, dadas as pressões editoriais) de investigar, com o seu contraponto nos tratamentos desumanos e desprofissionalizantes que começam a ser demasiado presentes para serem ignorados numa profissão cada vez em maior crise de credibilidade, da parte dos empregadores, empresas mediáticas, mais preocupadas em fazer dinheiro do que em servir informação válida e útil.

Entretanto, abrem-se, a páginas tantas, as questões éticas que se lançam quando, por um lado defendemos o anonimato da publicação como fonte de informação privilegiada, por outro, reconhecemos nesse mesmo anonimato uma arma para o ataque impune às reputações alheias.

Observe-se a forma como o Provedor é apanhado de surpresa nestas novas dinâmicas da web direccional, em que um comentário seu é apanhado e transportado para o topo da discussão, lançando dúvidas sobre a sua integridade em dirimir sobre um caso onde se envolve confessamente um seu amigo; ou ainda como um autor famoso consegue empolar uma situação para um ataque conspiracionista por ver o seu blogue supostamente atacado. Tudo isto são mais do que elementos que devem fazer-vos querer comprar este livro e lê-lo, mas o texto encerra mais golpes de vista inteligentes para vos fazer pensar.

Cada um dos casos aqui presente seria matéria para uma série de debates essenciais para profissionais da nossa área, nós, que trabalhamos com comunicação e tantas vezes temos de lidar com os jornalistas, como Relações Públicas ou temos nós mesmos de orientar estratégias de comunicação digital que passam pelo bloggging ou produzir conteúdo para publicações online; se somos, nós próprios, como é o meu caso, bloggers, este livro não nos pode de modo algum passar ao lado; mas um livro assim denuncia situações que também nos envolvem a todos transversalmente, chamando-nos à berlinda, enquanto consumidores de informação e cidadãos. Façam justiça e vão à procura desta obra.

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